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Desamparo | Crítica | Ana Luísa Correia| "Retratos da alma de um povo", Diário de Notícias da Madeira

 

Dentro de Ti Ver O MarDesamparo – Romance
de Inês Pedrosa
Edição portuguesa: 320 páginas, Dom Quixote.
Edição brasileira: 296, Leya
Edição croata: 208, OceanMore

 

 

Retratos da alma de um povo
O mais recente livro de Inês Pedrosa espelha estados de alma de um povo sofrido.

Há livros que são estados de alma. Há livros que com poucas palavras, com as primeiras palavras, já nos conquistam, porque nos remetem para a nossa própria vida, para as palavras da nossa história, ou de uma história que nos é próxima, querida.
É isto que acontece com Desamparo, o mais recente livro de Inês Pedrosa, um livro que é a história de Jacinta Sousa, mulher que foi levada do colo da mãe para o Brasil aos três anos e que regressa para a conhecer mais de cinquenta anos, um livro que é acima de tudo, a radiografia de um povo, cheio da tal saudade do fado e do desamparo que parece enraizado na alma. Inês Pedrosa escreveu um livro que nos consome, que nos faz pensar, em tantos aspectos, até na falta de tempo que temos para 'absorver' os sentimentos simples do dia-a-dia. "As tragédias individuais não são assinaladas por placas, homenagens, celebrações. Falta-nos o tempo para as acolher e são demasiado próximas da nossa vida", escreve.
Numa escrita inteligente, límpida e plena de humor, a autora cria um universo singular, uma aldeia em que se cruzam personagens e histórias de vários continentes. Emigrações e imigrações de ontem e de hoje, seres solitários e escorraçados que procuram novas formas de vida, enquanto tentam sobreviver à maior depressão económica das últimas décadas. Mas acima de tudo, Inês Pedrosa escreveu uma reflexão sobre o Portugal de hoje e sempre, sobre o que é ser português, e isso vai muito além de qualquer enredo e personagem. Afinal, "nenhum português, quer ser apenas português; todos eles, como eu, sofrem de um complexo de inferioridade superior ou de uma superioridade inferior que lhe permite criar uma sinuosa empatia com o que é estranho e diferente. Os meus filhos são os meus avós, a minha mãe, cujas vidas eu venho completar. Os meus filhos são aqueles de quem eu tomo conta; tomar conta é uma actividade que faz parte do quotidiano português. Este país que se diz triste é afinal um lugar de consolação."

Ana Luísa Correia, in Diário de Notícias da Madeira (Edição de 22/03/2015)

 

 

 
 
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