 Fado ou
Dentro de Ti Ver o Mar
Romance de Inês Pedrosa
Edição revista pela autora, 246 pp., Porto Editora
Primeira edição (2012): 344 páginas, Dom Quixote
Edição brasileira: 256 páginas, Alfaguara
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"Um balanço da década, um balanço de ilusões e uma enumeração das desilusões que estes anos criaram e de que não nos libertaremos tão cedo." – Francisco José Viegas, Correio da Manhã
"A grande virtude deste romance é de fato a mestria com que a autora domina os cânones romanescos; a maneira como todos os capítulos estão interligados pressupõe um enorme trabalho de estrutura e, sobretudo, de se saber o que se quer dizer." – José Riço Direitinho, Público
O romance entre uma jovem fadista e um homem casado que foi abusado na infância e repete esse abuso com a mulher, através de violência física, e com a amante, através de violência psicológica, é o centro de Dentro de ti ver o mar. Assistimos à lenta tomada de consciência destas duas mulheres e ao seu trajecto de libertação, bem como ao percurso de uma iraniana em fuga de um mundo opressivo e dos estereótipos associados às mulheres muçulmanas.
Dentro de ti ver o mar é um romance estereofónico em torno dos temas, muito contemporâneos, da pertença e da identidade. Rosa, a protagonista, é uma jovem fadista, filha de uma apresentadora de televisão, que se empenha em procurar o pai desconhecido, ao mesmo tempo que se envolve numa paixão intensa com Gabriel, um livreiro que usa os livros como uma barragem contra a torrente da vida.
O desassossego de Rosa cruza-se com o de Farimah, engenheira iraniana que aceita um casamento branco com um seropositivo português para fugir a um casamento forçado pelo pai. Mandela, português de origem africana, e Luísa, a filha bastarda de um aristocrata, são outros personagens centrais nesta história de desenraizados radicais, que se vão descobrindo cúmplices num mundo em que as fronteiras nunca são tão fluidas como parecem.
Os dramas do quotidiano individual cruzam-se neste livro com os dramas colectivos e políticos: o ataque às Torres Gémeas de Nova Iorque, as sequelas da última grande epidemia do século passado – a SIDA – e o crescimento do fundamentalismo islâmico alteram de um modo muito concreto a existência, as escolhas e os sonhos de cada um dos personagens.
A história, povoada de peripécias, viaja entre Lisboa, Londres, Nova Iorque, São Paulo e Rio de Janeiro – e tem o fado como música de fundo. Um fado também ele em transformação, na voz da protagonista, que abandona a resignação fatalista para usar a melancolia da música tradicional como suporte de um discurso de emancipação erótica e íntima.
O maior e o menor, o riso e as lágrimas, a alegria e o desespero, a paixão e o desejo, percorrem esta narrativa articulando humor, poesia, acção e reflexão.
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